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‘Caso VaideBet’: como dinheiro de comissão do Corinthians foi parar em conta suspeita

by Da Reportagem

Follow the Money”. Ou “Siga o Dinheiro”, em português. Esse foi o processo conduzido pela Delegacia de Crimes Financeiros, do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), para conduzir a investigação no chamado ‘caso VaideBet’, que indicou que parte dos valores pagos pelo Corinthians à “Rede Social Media Design” acabaram em uma conta que estaria ligada ao crime organizado.

A agência que pertence ao empresário Alex Cassundé é parte do contrato de patrocínio máster firmado entre Corinthians e VaideBet, sendo incluída no acordo como intermediária.

Um relatório preliminar sobre o caminho do dinheiro, ao qual a ESPN teve acesso, detalha as movimentações realizadas através de relatórios obtidos juntos ao COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e extratos bancários. O clube é apontado como vítima.

A empresa “Rede Social Media Design” recebeu R$ 1,4 milhão a título de comissão em dois pagamentos de R$ 700 mil: o primeiro em 18 de março de 2024; o segundo em 21 de março.

Dessa quantia, R$ 1 milhão foi repassado então à “Neoway Soluções Integradas”, empresa que tinha como proprietária Edna Oliveira dos Santos, mulher que teria sido usada como “laranja”.

A investigação conduzida pela Polícia Civil aponta ainda que Alex Cassundé esteve no Parque São Jorge no dia em que a primeira transferência bancária à Neoway foi realizada, no dia 25 de março.

Segundo apontam indícios apurados pela investigação, pouco mais de R$ 1 milhão chegou fracionadamente durante o decorrer de semana à conta da “UJ Football Talent Intermediação” através de repasses feitos por duas empresas: “Wave Intermediações e Tecnologias LTDA” (R$ 874.150,00) e “Victory Trading Intermediação de Negócios” (R$ 200.000,00).

A investigação da Delegacia de Crimes Financeiros aponta ainda que o “único sócio da Victory, Victor Henrique de Oliveira Shimada, foi preso em janeiro de 2025 pela Policia Federal, tendo permanecido pouco mais de duas semanas detido, acusado, tudo indica, da prática de furto qualificado e lavagem de dinheiro”.

Como revelou uma reportagem do SBT, a “UJ Football Talent” foi citada em acordo de delação premiada firmado por Antônio Vinícius Gritzbach com o Ministério Público de São Paulo como empresa ligada a integrantes do crime organizado.

O empresário foi morto no dia 8 de novembro de 2024 no estacionamento do Aeroporto Internacional de Guarulhos.

A ESPN detalha abaixo o passo a passo da comissão paga pelo Corinthians até a conta da UJ Football Talent Intermediação:

  • 18 de março: pagamento de R$ 700 mil do Corinthians à Rede Social Media Design

  • 21 de março: pagamento de R$ 700 mil do Corinthians à Rede Social Media Design

  • 25 de março: Rede Social Media Design envia R$ 580 mil à Neoway Soluções Integradas (data em que Alex Cassundé esteve presencialmente no Parque São Jorge)

  • 26 de março: Rede Social Media Design envia R$ 462 mil à Neoway Soluções Integradas

  • 26 de março: Neoway faz envio de R$ 600 mil à Wave Intermediações e Tecnologias LTDA

  • 26 de março: Neoway faz envio de R$ 400 mil à Wave Intermediações e Tecnologias LTDA

  • 26 de março: Wave envia R$ 467.325,00 à UJ Football Talent Intermediação

  • 27 de março: Neoway envia R$ 40 mil à Thabs Soluções Integradas

“(…) Tudo estava a indicar que o compromisso da NEOWAY, enquanto empresa fantasma e titular de contas de passagem, era receber dinheiro e imediatamente enviá-lo ao destinatário indicado”, cita o relatório da Delegacia de Crimes Financeiros.

  • 28 de março: Wave envia R$ 206.825,00 à UJ Football Talent Intermediação

  • 28 de março: Wave envia R$ 200 mil à UJ Football Talent Intermediação

  • 28 de março: Victory Trading Intermediação de Negócios envia R$ 200 mil à UJ Football Talent Intermediação

“Parece-nos nítido, destarte, que aqueles que deram causa ao desvio de dinheiro dos cofres do Sport Club Corinthians Paulista se utilizaram das tradicionais estratégias de lavagem de dinheiro para, não só introduzir os valores no sistema financeiro e distanciar o capital ilícito de sua origem, visando, assim, evitar uma associação direta com a infração antecedente (daí o uso de duas camadas de empresas – NEOWAY e, depois, WAVE /VICTORY), como também fracionar os recursos criminosos em transito e, deste modo, pulveriza-los em duas , três ou amis operações, tudo para dificultar a reconstrução da trilha do papel”, cita o relatório.

A “Wave” está no centro do relatório por apresentar movimentações consideradas suspeitas, tendo registrado cerca de 23 operações de depósito em espécie entre 2023 e 2024, somando valores na casa de R$ 3 milhões.

O relatório aponta ainda que a empresa movimentou R$ 290 milhões entre agosto de 2023 e setembro de 2024 em uma conta do Banco do Brasil.

Ainda segundo relatório do DPPC, a “Wave Intermediações e Tecnologias LTDA” teve operação encerrada no dia 25 de abril, pouco tempo após a inclusão online nos autos do processo dos depoimentos de Augusto Melo, Marcelo Mariano e Sergio Moura, além de Rubens Gomes, ex-diretor de futebol do Corinthians.

“Na oitiva deste (Rubens Gomes), feita em aditamento, num dado momento lhe foi dirigido questionamento sobre a UJ Football, o que nos faz presumir que, possivelmente, alguém tenha ficado sabendo desta menção e, concluído que havíamos descoberto o caminho do dinheiro, tratou imediatamente de encerrar a principal empresa usada para mobilizar a engrenagem: a WAVE”, aponta o relatório da Polícia Civil.

Ainda segundo apurou a ESPN, a expectativa é de que a conclusão do inquérito aconteça nos próximos dias, ainda no mês de maio.

Augusto Melo, presidente do Corinthians, Marcelo Mariano, ex-diretor administrativo, Sergio Moura, ex-superintendente de marketing, e Alex Cassundé, proprietário da Rede Social Media Design podem ser indiciados por lavagem de dinheiro e associação criminosa.

O que o Corinthians diz?

Em comunicado emitido nesta quinta-feira (15), o Corinthians se posicionou oficialmente sobre as novas informações sobre o ‘caso VaideBet’. Veja abaixo:

“O Sport Club Corinthians Paulista informa que, até o momento, não há qualquer demonstração de autoria relacionada aos fatos mencionados. O presidente do Clube reafirma seu total apoio às investigações em andamento, bem como a todas as iniciativas que visem apurar eventuais envolvimentos do crime organizado no futebol brasileiro.

O Corinthians destaca que é vítima das circunstâncias investigadas e reforça que não possui controle sobre o que terceiros fazem com valores recebidos em decorrência de contratos firmados. O Clube cumpre rigorosamente todas as suas obrigações legais e contratuais, prezando pela transparência e integridade em suas operações.

O Corinthians reitera seu compromisso com a transparência, a responsabilidade e a justiça no esporte, apoiando todas as medidas necessárias para garantir a lisura das competições e combater práticas ilícitas no futebol”.

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