O delegado Rodrigo Corrêa, da Delegacia de Repressão aos Delitos do Esporte (DRADE), da Polícia Civil, confirmou à ESPN que Damián Bobadilla, meio-campista do São Paulo acusado de xenofobia no duelo contra o Talleres, pela CONMEBOL Libertadores, será intimado a depor nesta sexta-feira (30), no período da tarde.
Segundo a acusação, Bobadilla teria se referido a Miguel Navarro, do Talleres, como “venezuelano morto de fome”.
“O crime investigado é grave, imprescritível e inafiançável, com pena de 2 a 5 anos de reclusão. Pretendemos ouvi-los [Bobadilla e seus representantes legais] sobre o fato na próxima sexta-feira, para entender também a situação com quem mais estava ao lado, queremos apurar o fato, que é grave, com todo o rigor possível. A intimação é para que Bobadilla compareça e seja ouvido, que dê sua declaração sobre o ocorrido. Queremos confrontar a versão dele com as demais que já constam no inquérito instaurado”, afirmou à ESPN o delegado da DRADE.
“Ainda no estádio, fizemos a oitiva tanto da vítima quanto das testemunhas [jogadores do Talleres] e do árbitro. Não fomos procurados oficialmente pelo atleta nem pelo São Paulo”, continuou Rodrigo Corrêa.
Entre o fim do jogo, o staff do Talleres comunicar as autoridades sobre o ocorrido e a chegada da Polícia Militar ao vestiário do São Paulo, Bobadilla já havia deixado o local. O atleta foi o primeiro a deixar o campo após o apito final.
“Ele poderia ser preso em flagrante, a depender de sua declaração, se não dissesse nada em sua defesa para mudar o rumo da investigação, trazer novos fatos. A prisão que a polícia realizaria seria em flagrante, agora outras eventuais prisões são feitas com ordem judicial. Não sendo preso ontem após o jogo, ele vai para investigação. Acreditamos no atleta, que ele compareça e esclareça essa situação na sexta-feira”, disse o delegado.
Depoimento do árbitro deve ser descartado
O árbitro Piero Maza (CHI) disse “não ter escutado” nenhuma ofensa xenofobica por parte de Bobadilla a Miguel Navarro, em depoimento prestado no início desta madrugada no Jecrim, no Estádio do Morumbis, após a vitória do Tricolor por 2 a 1.
A reportagem pôde saber ainda que o chileno foi convocado para depor como uma possível testemunha do caso. Porém, como o árbitro diz não ter escutado a suposta ofensa, o depoimento dele deverá ser descartado pelas autoridades.
A ideia do São Paulo é disponibilizar um advogado criminalista para compor o corpo jurídico do clube que irá trabalhar na defesa do paraguaio.
O que dizem Miguel Navarro e Damián Bobadilla
Nas redes sociais, o lateral venezuelano do Talleres publicou o seguinte texto:
“Quisera eu poder ter nas minhas mãos a solução para a fome que vive meu país, espero que Deus me dê abundância para poder ajudar. Não creio que se possa fazer muito sobre a pobreza mental. Nunca me envergonharei das minhas raízes, irei até as últimas consequências frente ao ato de xenofobia que vivi hoje no Brasil pelas mãos de Damián Bobadilla. No futebol não há espaço para discursos de ódio”.
Também nas redes sociais, Bobadilla deu sua primeira versão sobre o ocorrido em campo:
“Estou aqui para falar um pouco sobre o que aconteceu ontem à noite. Bom, primeiro foi uma partida muito acirrada, um clima tenso durante toda a partida. Depois do nosso segundo gol, tive algumas discussões com um jogador do Talleres, onde inicialmente fui insultado e também tratado com um pouco de desprezo”, iniciou.
“Mas nunca tive a intenção de discriminar ninguém. Bom, no calor do momento eu reagi mal e, bem, peço desculpas publicamente. Se eu tiver a oportunidade de falar com ele pessoalmente, também pedirei desculpas. Só queria esclarecer isso e mandar um grande abraço a todos”, finalizou.
São Paulo fala em ‘medidas educativas’
Nesta quarta, dia seguinte à partida, o Tricolor emitiu nota oficial sobre a acusação contra seu atleta:
“O São Paulo Futebol Clube, por meio desta nota oficial, reafirma seu compromisso com os princípios de respeito, igualdade e inclusão, pilares fundamentais que norteiam suas atividades esportivas e institucionais.
Em face dos acontecimentos ocorridos durante a partida contra o Club Atlético Talleres, válida pela CONMEBOL Libertadores, o Clube informa que está acompanhando atentamente a apuração dos fatos pelas autoridades competentes, colaborando integralmente com as investigações em curso.
O São Paulo FC reitera que repudia veementemente qualquer manifestação de discriminação, preconceito ou intolerância, seja ela de natureza racial, étnica, nacional ou de qualquer outra forma.
O Clube permanece à disposição das autoridades e das entidades esportivas para quaisquer esclarecimentos adicionais e reforça seu compromisso contínuo com a promoção de um ambiente esportivo pautado pelo respeito mútuo e pela dignidade humana.
Em relação ao nosso atleta Bobadilla, que, ao longo de sua carreira, não apresentou histórico de conduta disciplinar negativa – ao contrário, sempre pautou sua trajetória pelo profissionalismo – entendemos ser fundamental que o Clube ofereça suporte institucional. O Clube providenciará que ele seja devidamente orientado por meio de medidas educativas que serão conduzidas pela área de compliance.“
Caso semelhante gerou punição severa na Libertadores
Pablo Ceppelini, do Alianza Lima, foi suspenso por quatro meses por ter chamado um torcedor do Boca Juniors de “boliviano”, durante confronto pela primeira fase da Libertadores de 2025.
De acordo com a entidade sul-americana, o atleta infringiu o artigo 15.1 do código disciplinar da Conmebol, que veta qualquer atitude que “menospreze, discrimine ou atente contra a dignidade humana de outra pessoa ou grupo de pessoas por motivos de cor da pele, raça, religião, origem étnica, gênero ou orientação sexual“, diz o documento.
