Home Sports Os bastidores da ida frustrada de Wendel no Botafogo além da ‘questão geopolítica’

Os bastidores da ida frustrada de Wendel no Botafogo além da ‘questão geopolítica’

by Da Reportagem

O cancelamento da negociação do Botafogo com Zenit, da Rússia, pelo volante Wendel, frustrou não só a torcida, mas também o jogador, que já estava de malas prontas para o Rio de Janeiro – ele estaria à serviço do clube carioca a partir de 2 de junho.

O Alvinegro alegou que “questões geopolíticas” envolvendo os proprietários do Zenit e o dono da SAF do Glorioso, John Textor, que é norte-americano, impediram o negócio, já que as leis dos Estados Unidos hoje proíbem transações comerciais com russos que estão incluídos na lista de sanções internacionais de comércio.

Tal justificativa dada pelo Botafogo é válida? O ESPN.com.br foi atrás de uma resposta, uma vez que cariocas e russos fizeram dois negócios no início da temporada – quando tais sanções já eram públicas desde 2022, ano que começou a guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Vale lembrar que, em janeiro, o clube alvinegro acertou não só a venda de Luiz Henrique para o Zenit por 33 milhões de euros, como também a compra de Artur junto aos russos por 10 milhões de euros.

A reportagem conversou com Amanda Melo, Mestre em Direito Internacional Econômico, para entender sobre a questão.

O Zenit é controlado pela Gazprom, uma empresa estatal de energia russa que consta na lista de sanções chamada de SDN (Specially Designated Nationals em inglês) desde 24 de outubro de 2022. O relatório, inclusive, feito pela Agência de Controle de Ativos Estrangeiros (Office of Foreign Assets Control em inglês) é aberto para consulta pública no site.

Na teoria, por lei, o clube também é considerado sancionado, conforme explicou Amanda.

”Realizando uma busca com a razão social do Zenit, realmente não é possível encontrar. Mas tem uma questão por trás disso, que é a regra do 50% que se aplica nesse caso, que uma entidade controlada acima de 50% por uma entidade sancionada, ela também é considerada sancionada, independentemente de ter sido incluída nessa lista. No caso do Zenit, é a empresa Gazprom”, disse a advogada.

”A Gazprom sancionada foi algo que impactou diversos negócios internacionais depois que aconteceu. É uma coisa que saiu em várias notícias, sites e blogs. Realmente esse tipo de informação é de fácil acesso. Além disso, também verifiquei aqui que o estádio do Zenit se chama Gazprom Arena, mais uma pista”, completou.

Segundo nota oficial divulgada pelo Botafogo na última quarta-feira, ”proprietários do clube russo foram incluídos na lista de sanções internacionais, o que impede, por lei dos Estados Unidos, qualquer transação com a equipe – especialmente considerando que John Textor, acionista majoritário da SAF, é cidadão norte-americano”.

”Existe uma justificativa válida do Botafogo em não querer levar à frente essa transação principalmente pela figura do John Textor, que é um cidadão americano e que está exposto a multas extremamente altas, processos criminais que podem ter pena de prisão, complicações com o sistema bancário americano e também uma questão reputacional no país dele. Algo que hoje em dia também pode ser agravado pelas mídias sociais e tudo mais”, explicou Amanda.

Um caso semelhante ao do Botafogo com Wendel aconteceu com o rival Vasco em fevereiro de 2024. Na época, o time de São Januário teve acordo firmado com Du Queiroz, então jogador do Zenit, mas não conseguiu concluir a transação porque o clube era controlado pela 777 Partners.

Dessa forma, portanto, na data de assinatura do contrato de Wendel com o Botafogo, em 25 de janeiro de 2025, a questão da sanção relacionada aos russos já não era nenhuma novidade.

”A justificativa do Botafogo é legítima, mas a pergunta é: se essas sanções, se essa inclusão da Gazprom se deu em fevereiro de 2022, então provavelmente, durante a negociação e com certeza durante a assinatura desse contrato, já era um fato bem consolidado, não foi uma coisa que ocorreu depois da assinatura do contrato ou da negociação de algum termo”, concluiu a advogada.

Crise do Lyon pesou no negócio

Não é novidade que a Eagle Football Club, uma das empresas da Eagle Football, grupo de John Textor, passa por uma situação financeira complicada, principalmente pelo Lyon.

O clube francês, que também pertence ao dono da SAF do Botafogo, precisa apresentar garantias financeiras de 100 milhões de euros ao DNCG (Direção Nacional de Controle e Gestão, um órgão de finanças do futebol francês) até o fechamento desta temporada, mais especificamente no dia 24 de junho.

Caso contratasse Wendel, o Botafogo pagaria 20 milhões de euros ao Zenit pela contratação do volante e, como todas os clubes da empresa multi-clubes de Textor operam em sistema de ”caixa único”, os problemas financeiros da Eagle, de fato, podem ter influenciado no fracasso do negócio dos cariocas com os russos.

Procurado pela reportagem, o Botafogo não se posicionou sobre o tema. Caso assim o faça, a nota será atualizada.

Wendel estava de malas prontas e não recebeu

Assim como a torcida do Botafogo, que já dava o negócio como certo desde janeiro, quando o próprio clube anunciou Wendel, o volante também foi pego de surpresa.

A ESPN conversou com pessoas próximas ao atleta, que garantiram que o Botafogo não fez nenhum tipo de pagamento ao Zenit. Com isso, Wendel não recebeu as luvas, que tinham sido acordadas no momento da assinatura do contrato.

Em comunicado oficial, o meio-campista disse que já preparava sua vida no Rio de Janeiro quando foi informado de que o negócio foi cancelado.

”Fui surpreendido com a rescisão do contrato já firmado com o Botafogo nesta quarta-feira. Já estava estruturando minha vida no Rio de Janeiro e focado para este segundo semestre”, disse o jogador.

”Tenho grandes ambições na carreira e acreditei no projeto do Botafogo. Entretanto, não tenho qualquer participação neste movimento do clube em desfazer o negócio. Deixo isso bem claro para a torcida alvinegra e fiquei também surpreso, pois sempre cumpri meus contratos por onde passei”, completou o volante.

Wendel, de 27 anos, está no Zenit desde 2020, quando foi comprado do Sporting, de Portugal. Na atual temporada, ele soma 27 jogos pelo russos, com dois gols e 12 assistências.

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