Os contratos de publicidade que Neymar tem com Puma e Red Bull ajudaram a possibilitar o incomum amistoso que o Santos disputará, em meio ao Campeonato Brasileiro, nesta quarta-feira (27), às 19h (horário de Brasília), contra o RB Leipzig, da Alemanha, clube também parceiro das duas empresas.
É um dos exemplos da força de Neymar como “marca”, mesmo com o jogador ainda sofrendo para ter sequência em campo – dos 20 jogos possíveis desde sua reestreia, ele foi desfalque em nove.
Foi olhando para o que o camisa 10 poderia entregar tanto dentro, quanto fora das quatro linhas que o Santos montou seu projeto para viabilizar o retorno. Dele, surgiram dois contratos, fechados no dia 31 de janeiro, com validade até 30 de junho de 2025: um de trabalho, diretamente com Neymar; e outro de exploração de imagem, com a NR Sports, empresa liderada pelo pai do atleta.
Como revelou o UOL e confirmou a ESPN, há um compromisso do Santos com um pacote de, no mínimo, R$ 105 milhões, sendo R$ 20,7 milhões equivalentes ao salário bruto do astro pelo período de fevereiro a junho e US$ 15 milhões (aproximadamente R$ 85 milhões na cotação atual) pela “subcessão do direito ao uso e exploração comercial das propriedades intelectuais do atleta”.
O primeiro acerto é o que de fato Neymar recebe como salário. São R$ 4,13 milhões brutos pagos por mês ao jogador, que fica com R$ 3 milhões líquidos – recorde no Brasil em contrato federativo.
O segundo contrato, com a NR Sports, tem como fórmula central uma divisão entre os ganhos de publicidade gerados com a chegada do astro: a empresa liderada por Neymar Pai fica com 75% dos ganhos de novos contratos ou da melhoria de acordos existentes, e o clube, com 25% disso. Os US$ 15 milhões são o valor mínimo garantido à empresa previsto no documento assinado pelo Santos.
Como comparação, esses R$ 85 milhões superam o total de receitas que o Santos teve com publicidade em 2023 (R$ 77,6 milhões), último ano em que esteve na Série A antes de Neymar. Uma medida do desafio assumido pelo clube, mas que não preocupa, segundo pessoas ouvidas pela reportagem. O entendimento é que, mesmo antes do fim do contrato, o camisa 10 “já se pagou”.
“Os contratos negociados em parceria entre Santos e NR Sports vão gerar recursos suficientes para que o clube honre os compromissos assumidos”, garantiu Armênio Neto, gerente de marketing do Santos, à ESPN.
O tempo verbal empregado pelo dirigente é importante: “contratos negociados”, no passado, “vão gerar”, no futuro. Isso porque o contrato com a NR Sports põe como prazo para o acerto dos US$ 15 milhões “30 dias contatos” após o fim do contrato com Neymar – ou seja, 30 de julho. Embora o entendimento tanto no clube, como na NR Sports seja que o valor será atingido, o fluxo dos pagamentos que o Peixe irá receber não acompanhará essa data-limite.
Segundo apurou a reportagem, não existe multa em caso de incumprimento do prazo, mas já existem conversas entre Santos e NR Sports para repactuar esse ponto. As discussões acontecem em cenário ainda de incerteza sobre a renovação do próprio Neymar, mas é concreta a possibilidade e a parceria com a empresa do pai seguir mesmo com o atleta fora da Vila Belmiro.
As melhorias em estrutura que a própria NR Sports tem liderado no estádio (de camarotes ao vestiário) e CT da base do Santos são um indicativo nessa direção. Inclusive, o clube calcula uma economia de R$ 20 milhões com a atuação da empresa com parceiros para essas reformas.
Mas afinal, Neymar ‘já se pagou’ no Santos?
O Santos garante que todos os salários de seu elenco estão em dia, ou seja, Neymar está recebendo normalmente R$ 3 milhões líquidos mensais. Os pagamentos referentes ao contrato de imagem, contudo, obedecem ao fluxo do recebimento dos próprios patrocinadores.
Quando acertou a contratação de Neymar e fechou o mecanismo de divisão com a NR Sports, o Santos tinha negociadas quatro propriedades de seu uniforme: patrocínio máster (então com a Blaze), omoplata (Canção), barra traseira (Saint-Gobain/Placo) e manga (Kicaldo). Em caso de qualquer incremento referente a esses valores, os 75% da empresa são referentes à diferença entre o que era pago antes e subiu após a chegada do jogador (definido como “mais-valia”).
Outras oito propriedades foram “disponibilizadas” para negociação em um cenário em que qualquer contrato fechado gera 75% dos ganhos para a NR, já que, até então, não havia receita com elas (ou os contratos venceriam após o Paulista). Eram: máster costas, barra frontal, barra lateral, meião, shorts, shooter sleeve (acessório comum na NBA que Neymar usa no braço) e número.
Entre os contratos que o Santos já tinha, houve a troca no patrocínio máster, com a Blaze dando lugar à Bet7K. De R$ 22,5 milhões por ano, o clube passou a faturar R$ 51 milhões, diferença de R$ 28,5 milhões – 75% (R$ 21,4 milhões) ficam com a NR Sports, 25% (R$ 7,1 milhões) com o Peixe.
Dos espaços que estavam em aberto no uniforme, chegaram Viva Sorte (máster costas), Havan (barra frontal), Pague Safe (meião), Uniasselvi e Next10 (shorts), Loovi Seguros (número) e Unikka Pharma (shooter sleeve). A barra lateral está em negociação.
A projeção, segundo apurou a ESPN, é que esses contratos, incluindo o de patrocínio máster, gerem ao Santos pouco mais de R$ 91 milhões, sendo que R$ 66 milhões entram como “mais-valia”, ou seja, valores que o clube conseguiu com a chegada de Neymar – cenário em que 75% disso, quase R$ 50 milhões, vão para a NR Sports, e os outros R$ 16 milhões, 25%, ficam com a equipe alvinegra.
O Santos também desconta do valor mínimo que tem que repassar à empresa de Neymar Pai o valor de contratos de patrocinadores que se tornaram parceiros pessoais do camisa 10 após acordo com o clube. Aconteceu, por exemplo, com as empresas Viva Sorte e Canção.
Dinheiro além dos patrocínios
Há outras receitas que o Santos tem projetado direcionar para o pagamento do “projeto Neymar”, também fruto do retorno. O crescimento do programa Sócio Rei é um deles. De janeiro para fevereiro, o clube viu seu faturamento saltar de R$ 2,5 milhões para R$ 4,2 milhões, fazendo a estimativa para o ano chegar a R$ 50 milhões – contra R$ 30 milhões antes da volta do craque.
Santos e NR Sports também contam com R$ 11 milhões a serem gerados em conteúdos produzidos nas redes sociais e com um documentário com bastidores sobre a volta do jogador.
A confiança alvinegra era tão grande nesse retorno, aliás, que ainda em 2024, quando negociou renovação de contrato com a Umbro, o Santos acertou uma cláusula de que receberia um bônus caso Neymar voltasse – valor que já foi pago pela empresa. O novo uniforme azul que será usado pela primeira vez no próximo domingo (1), contra o Botafogo, também é parte desse projeto, e camisas adquiridas já com a personalização do astro têm uma parte da renda direcionada à NR.
Entre economias e gastos
A economia de R$ 20 milhões que o Santos estima com as melhoras de estrutura que a NR Sports tem liderado também não é a única. Há outras menores – mas milionárias – que só aconteceram pela chegada de Neymar. Por outro lado, é verdade também que existem gastos que vieram atrelados exclusivamente à contratação.
É responsabilidade do Santos, por exemplo, pagar todas as despesas de locomoção e estadia para Neymar, seus acompanhantes e três membros do estafe da NR para eventos ou gravações com patrocinadores que tenham ligação com a parceria. Em casos de deslocamento aéreo, o clube custeia voo privado ao jogador e acompanhantes, estadia em hotel cinco estrelas, e voo em classe executivo para os funcionários da empresa de Neymar Pai.
O contrato da NR Sports com o Santos também previa a contratação de um assessor de imprensa indicado pela empresa para cuidar da parceria e Neymar, além de um fotógrafo e filmaker para acompanhar o jogador diariamente, com acesso às dependências do clube.
Vai renovar?
Até a última semana, o clima no Santos era de total otimismo de que Neymar renovaria e seguiria no clube depois de 30 de junho. A declaração do jogador ao ser perguntado sobre a permanência após a eliminação da Copa do Brasil, contudo, deixou tudo mais incerto. “Não sei ainda, não sei.”