Os técnicos portugueses chegaram em peso ao futebol brasileiro nesta década. Quatro das últimas seis edições de Campeonato Brasileiro foram vencidas por um profissional nascido em Portugal: Jorge Jesus, em 2019, pelo Flamengo; Abel Ferreira, em 2022 e 2023, pelo Palmeiras; e Artur Jorge, em 2024, pelo Botafogo. Os resultados fizeram com que outros treinadores do país ganhassem espaço no Brasil – são quatro trabalhando atualmente na Série A. O sucesso tem sido comemorado até de longe.
O também português Marco Silva, técnico do Fulham, da Inglaterra, celebrou o desempenho dos compatriotas em uma entrevista exclusiva à ESPN. Com anos de experiência na Premier League, ele garantiu que os treinadores brasileiros e argentinos, apesar da diferença de tratamento na Europa, não devem muito aos portugueses. “Estão no mesmo nível”, afirmou.
“Não me surpreende [o sucesso dos portugueses no Brasil]. Claro que não posso fazer grandes comentários porque não acompanho todos os jogos e não vejo tudo. Mas quando acontece um impacto em uma temporada, e depois de alguns anos acontece novamente, pode se falar em coincidência. Óbvio que não é o caso”, iniciou.
“São muitos anos seguidos com treinadores portugueses sendo campeões no Brasil, um campeonato que é muito competitivo, muitos jogos, viagens, muito duro para jogadores e treinadores estarem em alto nível. Se estão chegando mais treinadores de qualidade portugueses, é porque estão mostrando algo para os clubes brasileiros se interessarem neles”, seguiu.
“Naturalmente estão de parabéns, mas acredito que há treinadores brasileiros e argentinos que trabalham no Brasil que estão no mesmo nível [dos portugueses]. Para mim, o treinador não tem nacionalidade nem idade: ou tem qualidade ou não tem qualidade, ou está apto a exercer sua posição ou não”, completou.
Marco Silva chegou ao futebol inglês na temporada de 2016/17, para comandar o Hull City, e segue na Inglaterra desde então. Passou também por Watford e Everton até desembarcar no Fulham em 2021. Ele sabe bem os desafios de se adaptar a uma realidade diferente e mostrar o trabalho longe de casa.
“Óbvio que estou satisfeito [com o desempenho de portugueses no Brasil], alguns deles são pessoas com quem tenho grande carinho e respeito, e é sempre bom ver treinadores portugueses triunfarem fora de Portugal, neste caso, em um país como o Brasil – não só a nível nacional, mas também em campeonatos internacionais. Isso é muito importante”, pontuou.
“Estou satisfeito por eles e dou os parabéns, mas essa é minha ideia também de que o treinador não tem que ter nacionalidade e idade, tem que ter qualidade, não interessa de onde vem, mas, sim, que mostre qualidade todos os dias e todas as semanas”, concluiu.
Na Premier League, Marco Silva também enfrenta compatriotas. Além dele, são mais três portugueses na primeira divisão inglesa: Ruben Amorim, que comanda o Manchester United; Nuno Espírito Santo, do Nottingham Forest; e Vítor Pereira, ex-Corinthians e Flamengo, atualmente no Wolverhampton. Não há, porém, um troca diária de ideias e experiências.
“Normalmente conversamos mais quando jogamos um contra o outro, temos o momento pré e pós-jogo, em que nos relacionamos um pouco mais. Óbvio que há respeito entre todos, carinho entre todos, é sempre um orgulho ter portugueses em nossa volta e disputando um campeonato tão difícil”, contou.
“Sem margem para dúvidas, [a Premier League] é o campeonato mais difícil e competitivo do mundo, e nesse aspecto é sempre muito importante ter esses portugueses em nossa volta, como também há muitos treinadores espanhóis nesse mercado. É sinal de qualidade, sinal de que vamos ter sempre bons desafios pela frente cada vez que nos enfrentarmos”, finalizou.