O atacante Walter está de volta – e não só aos campos. Aos 35 anos, o jogador renasce no futebol com quase 40kg a menos e, mais do que isso, com a autoestima restaurada. Conhecido tanto pelos gols quanto pelos problemas recorrentes com a balança, ele concedeu uma entrevista exclusiva à ESPN e abriu o coração sobre saúde, críticas nas redes sociais, apoio familiar e a decisão de recomeçar.
“Estou muito feliz porque é um recomeço do Walter. Recomeço de tudo o que passei na carreira e na vida. Não podia terminar minha carreira como eu estava”, iniciou.
Walter, que passou por clubes importantes, como Internacional, Goiás, Fluminense, Cruzeiro, Athletico-PR e Porto, de Portugal, sempre mostrou muito talento, mas travou uma grande briga com a balança durante toda a carreira. Ele chegou a pesar 134kg, o que afetou seu rendimento, saúde e até o sono.
“Tinha momentos que nem conseguia dormir, roncava demais e, hoje, graças a Deus, é outro Walter. 100% diferente. A minha noção de peso era em torno de 105 a 115 quando jogava no Goiás. Quando pesei 134, tive vontade de chorar, mas hoje estou com 95, perdi bastante, quero perder mais, sempre com controle pra estar bem para treinar e jogar”.
A virada começou após um vídeo viralizar durante sua passagem pelo modesto Rolim de Moura. A repercussão negativa foi o estopim. “Vi aquela imagem e falei: não quero aquilo pra mim. Quero virar um jogador profissional, ajudar meus companheiros, quero ajudar o treinador. Não quero ir só pra fazer mídia”.
‘Era zoado. Meu espelho tava ruim’
Walter lembra das piadas sobre seu peso com dor, mas também com maturidade. “Ser zoado… a gente é espelho, e o meu estava ruim. Não tinha condição de jogar, tentava e não conseguia. Chegavam aqueles vídeos, você vê os comentários negativos e era muito feio pra minha carreira”.
As redes sociais, segundo ele, foram um campo de batalha à parte. “Me chamavam de gordo, de baleia… e quando você vai ver, o cara é três vezes maior que você, pai de família, da igreja. Pra quê fazer aquilo, cara?”.
Walter também ligou seu histórico de compulsão alimentar à infância difícil. “Eu não tinha condição de comprar um biscoito. Quando comecei a ganhar dinheiro, queria ter tudo que não tive. Até hoje gosto de abrir o armário e ver tudo lá”.
A superação, ele afirma, é motivo de orgulho. “Muita gente tira onda, mas não sabe o que passei. Tinha dia que a gente jantava às sete da noite porque não tinha o que comer antes. Por isso digo: eu venci”.
A volta por cima
O atacante agora conta com apoio médico diário e acompanhamento psicológico, algo que começou ainda nos tempos de Athletico-PR. “Se não tiver cabeça boa, se perde, sim. Já tive psicólogo, e isso me ajudou muito”.
A reeducação alimentar foi o passo definitivo. “Não deixei de comer tudo, mas aprendi. Cortei refrigerante, bolacha… Hoje sei o que posso e o que não posso comer”, contou, dizendo que não fez uso de medicamentos. “Tomei uma vez, me lasquei, caí no doping. Fiquei dois anos sem jogar. Nunca mais. Pra emagrecer é fechar a boca e ter vontade”.
Com a saúde em dia, Walter diz ter recuperado a essência do atleta. “Eu ia pros clubes pelo nome. E não era isso que eu queria. Hoje posso ajudar em campo. Me sinto jogador profissional de novo”. A última vez que havia sentido isso foi em 2022, no Santa Cruz.
Questionado sobre ter desperdiçado parte do talento por conta da luta contra a balança, Walter é honesto. “Minha caída não foi nem tanto no futebol, mas por conta do peso.” Ainda assim, ele vê sua trajetória como vitoriosa. “Joguei em times gigantes: Inter, Porto, Cruzeiro, Fluminense, Athletico… Fiz gol em todos. Claro que podia ter ido mais longe? Podia. Ou não. Mas sou muito feliz pela carreira que tive”.
Carreira essa, aliás, que ainda não acabou. Com o físico em dia, o apoio da família e a força mental recuperada, o novo Walter quer uma nova oportunidade para voltar a jogar profissionalmente após a passagem pelo Guarany Alagoano: “Quero jogar por mais tempo. Tenho qualidade, mas agora tenho também condição física”.